quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Tradução do Sutra de Lotus - Capítulo Hoben ( Meios )


Capítulo Hoben
Meios
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Niji sesson. Ju sanmai.Anjo ni ki. Go Sharihotsu. Sho-bu-ti-e. Jinjin muryo. Go ti-e mon. Nangue nannyu. Issai shomon. Hyaku-shi-butsu. Sho-fu-no-ti. 
Nesse momento, o Buda levantou-se serenamente de sua meditação e dirigiu-se a Sharihotsu, dizendo: "A sabedoria dos budas é infinitamente profunda e imensurável. O portal dessa sabedoria é difícil de compreender e de transpor. Nenhum dos homens de erudição ou de absorção é capaz de compreendê-la.

Nesse trecho "Nenhum dos homens de erudição ou de absorção é capaz de compreendê-la", Sakyamuni anuncia a Sharihotsu que a vasta sabedoria dos budas não pode ser sondada pela sabedoria superficial dos homens de erudição e de absorção, ou seja, as pessoas dos dois veículos.

Sharihotsu, um homem de erudição, é conhecido como o mais notável em sabedoria dentre os discípulos do Buda. Em termos de sabedoria, ele era insuperável entre os intelectuais. No entanto, Sakyamuni afirma categoricamente que nem mesmo Sharihotsu, com toda a sua sabedoria, pode compreender a sabedoria do Buda.

Apesar disso, enquanto Sakyamuni prosseguia a sua pregação, operava-se uma completa transformação não apenas em Sharihotsu mas em todos os homens de erudição. Isso significa que eles começaram a compreender a sabedoria do Buda, chegando Sakyamuni a reconhecer que poderiam atingir infalivelmente o estado de Buda. Esse fato é conhecido como "iluminação dos dois veículos".






Sho-i sha ga. Butsu zo shingon. Hyaku sen man noku. Mushu sho butsu. Jin gyo sho- butsu. Muryo doho. Yumyo shojin. Myosho fu mon. Joju jinjin. Mi-zo-u-ho. Zui gui sho setsu. Ishu nangue.
Qual é a razão disso? Um buda é aquele que serviu a centenas , a milhares, a dezenas de milhares, a incontáveis budas e executou um número incalculável de práticas religiosas. Ele empenha-se corajosa e ininterruptamente e seu nome é universalmente conhecido. Um Buda é aquele que compreendeu a Lei insondável e nunca antes revelada, pregando-a de acordo com a capacidade das pessoas, ainda que seja difícil compreender a sua intenção.


Nesta passagem, Sakyamuni esclarece a razão de a sabedoria dos budas ser infinitamente profunda e imensurável, e por ser o portal dessa sabedoria é difícil de compreender e de transpor, revelando as práticas que ele realizou em existências prévias.

Para dar uma idéia do quanto é difícil o caminho para se atingir a iluminação, Sakyamuni explica que um buda é aquele que serviu a incontáveis outros budas em existências prévias, conduziu corajosa e ininterruptamente incalculáveis práticas para então iluminar-se a uma Lei extraordinária.

Em comparação, a prática de Sharihotsu e de outras pessoas dos dois veículos era ainda muito superficial. Conseqüentemente, não conseguiram compreender inicialmente o verdadeiro propósito do ensino exposto por meio da sabedoria imensurável dos budas.






Shari-hotsu. Go-ju-jo-butsu-i-rai. Shu-ju-in-nen. Shu-ju-hi-yu. Ko-en-gon-kyo. Mu-shu-ho-bem. In-do-shu-jo. Ryo-ri-sho-jaku.
Sharihotsu, desde que atingi a iluminação tenho exposto meus ensinos utilizando várias histórias sobre relações causais, parábolas e inúmeros meios para conduzir as pessoas e fazer com que renunciem aos seus apegos a desejos mundanos.


Sakyamuni está explicando melhor a passagem anterior em que diz: "Um buda é aquele que compreendeu a Lei insondável e nunca antes revelada, pregando-a de acordo com a capacidade das pessoas, ainda que seja difícil compreender a sua intenção.

Sakyamuni abordou nos trechos anteriores sobre a sabedoria dos budas em geral. Nesta passagem, em contraste, ele se refere à sabedoria concentrando-se particularmente nele mesmo.
"Desde que atingi a iluminação" refere-se ao período desde que Sakyamuni atingiu o estado de Buda até pregar o Sutra de Lótus, período durante o qual expôs vários sutras provisórios. Sakyamuni esclarece a seguir a característica distinta dos ensinos pré-Sutra de Lótus. Ele diz que antes de pregar o Sutra de Lótus havia utilizado "várias histórias sobre relações causais"(explicando como os fatos acontecem) e "parábolas" na ampla exposição de seus ensinos; que esses ensinos eram meios (hoben em japonês) para conduzir as pessoas à verdade e libertarem-nas de seus vários apegos seculares.






Sho-i-sha-ga. Nyo-rai-ho-ben. Ti-ken-ha-ra-mi-tsu. Kai-i-gu-soku
Qual a razão disso? A razão está no fato de o Buda ser plenamente dotado dos meios e do paramita da sabedoria.


Nesta parte, Sakyamuni continua elogiando a imensa sabedoria do Buda. Até então, ele havia exaltado a sabedoria do Buda do ponto de vista das inúmeras práticas realizadas no passado. Nesse trecho ele discute o poder da sabedoria para conduzir as pessoas, e o estado de vida que o Buda atingiu como resultado dessas práticas.

Na frase "meios e o paramita da sabedoria", o termo "paramita da sabedoria" significa a perfeição da sabedoria. A palavra sânscrita paramita significa atingir ou aperfeiçoar.







Shari-hotsu. Nyo-rai-ti-ken. Ko-dai-jin-non. Mu-ryo-mu-gue. Riki..Mu-sho-i.Zen-jo. Gue-da. San-mai. Jin-nyu-mu-sai.Jo-ju-i-sai. Mi-zo-u-ho.
Sharihotsu, a sabedoria do Buda é ampla e profunda. Ele é dotado de imensurável benevolência, ilimitada eloqüência, poder, coragem, concentração, liberdade e samadhis (meditação), aprofundou-se no reino do insondável e despertou para a Lei nunca antes revelada.


Esse trecho explica os grandes poderes do Buda, ou seja, descreve a maravilhosa condição de vida que aqueles que abraçam o Gohonzon podem desenvolver. O segundo presidente Jossei Toda, interpretando esta passagem do ponto de vista do budismo de Nitiren Daishonin, ensinou que ela esclarece o estado de vida incorporado no Gohonzon.






Shari-hotsu. Nyo-rai-no. Shu-ju-fun-betsu. Gyo-se-sho-ho. Gon-ji-nyu-nan. E-ka-shu-shin. Shari-hotsu.Shu-yo-gon-shi. Mu-ryo-mu-hen. Mi-zo-u-ho. Bu-shitsu-jo-ju.
Sharihotsu, o Buda é aquele que sabe como discernir e como expor os ensinos habilmente. Suas palavras são ternas e gentis e podem alegrar o coração das pessoas. Sharihotsu, em síntese, o Buda compreendeu perfeitamente a Lei ilimitada, infinita e nunca antes revelada.


Sakyamuni prossegue enaltecendo a imensa sabedoria do Buda. Em última análise, ele afirma que, por ser dotado da "Lei ilimitada, infinita e nunca antes revelada", é que pode expor habilmente seus ensinos de acordo com a capacidade de compreensão e circunstâncias das pessoas e alegrá-las com "palavras ternas e gentis". Sakyamuni diz também que ele pode pregar a lei de acordo com as preocupações e as circunstâncias das pessoas devido à abundante e profunda "sabedoria dos budas" que flui em sua vida. Dessa forma, ele indica a vastidão da Lei inigualável para a qual ele iluminou-se.






Shi-Shari-hotsu. Fu-shu-bu-setsu. Sho-i-sha-ga. Bu-sho-jo-ju. Dai-iti-ke-u. Nan-gue-shi-ho.
Chega, Sharihotsu! Não vou mais continuar pregando. Por quê? Porque a Lei que o Buda revelou é a mais rara e a mais difícil de compreender.


O capítulo Hoben ("Meios") é chamado "ensino espontâneo e não solicitado". Isso porque o Buda começou a pregá-lo por iniciativa própria, dizendo: "A sabedoria dos budas é infinitamente profunda e imensurável", e não em resposta às indagações de alguém mais.

Até aqui, Sakyamuni veio enfatizando que a sabedoria do Buda está além da capacidade de compreensão de Sharihotsu e das pessoas dos dois veículos. Aqui, ele diz a Sharihotsu: "Não vou mais continuar pregando", a fim de estimular ainda mais o seu espírito de procura. Sakyamuni explica que ele não mais pregará, "porque a Lei que o Buda revelou é a mais rara e a mais difícil de compreender".

A expressão "Chega, Sharihotsu!" é uma rigorosa e benevolente orientação do Buda para seus estimados discípulos atingirem o supremo estado de vida.






Yui-butsu-yo-butsu. Nai-no-ku-jin. Sho-ho-ji-so. Sho-i-sho-ho. Nyo-ze-so. Nyo-ze-sho. Nyo-ze-tai. Nyo-ze-riki. Nyoze-sa. Nyo-ze-in. Nyo-ze-en. Nyo-ze-ka. Nyo-ze-hô Nyo-ze-hon má-ku-kyo-tô
A verdadeira entidade de todos os fenômenos somente pode ser compreendida e partilhada entre os budas. Essa realidade consiste de aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto e consistência do início ao fim.


Essa é a parte mais importante do capítulo Hoben ( "Meios"), a qual trata da verdadeira entidade de todos os fenômenos e dos dez fatores. O que seria, exatamente, a sabedoria do Buda que Sakyamuni veio enaltecendo desde o início do capítulo como algo "infinitamente profundo" e"difícil de compreender"?

A sabedoria do Buda que somente pode ser compreendida e compartilhada entre os budas é a"verdadeira entidade de todos os fenômenos", e "a verdadeira entidade" consiste especificamente dos dez fatores: aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto, e consistência do início ao fim.

A frase "todos os fenômenos" indica a vida nos dez mundos ou estados (shoho, em japonês) e o seu ambiente ( eho ) ou todos os seres vivos e o ambiente no qual habitam. Em outras palavras, refere-se a toda a natureza, todas as coisas e fenômenos.

O significado dos dez fatores pode ser resumido da seguinte forma:
1) aparência (nyo ze so ): a manifestação externa da vida;
2) natureza ( nyo ze sho ) : o aspecto mental ou espiritual da vida;
3) entidade ( nyo ze tai ): a totalidade da vida que consiste de aparência e natureza;
4) poder ( nyo ze riki ): a energia inerente;
5) influência (nyo ze sa ): a ação dirigida ao exterior;
6) causa interna ( nyo ze in ): a causa direta para algo ocorrer;
7) relação ( nyo ze en ): as causas ou condições que ativam a causa interna;
8) efeito latente (nyo ze ka ): o resultado produzido ( nas profundezas da vida ) pela causa interna e a relação;
9) efeito manifesto ( nyo ze ho : a manifestação concreta e perceptível do efeito latente;
10) consistência do início ao fim ( nyo ze honmatsu kukyoto ): a perfeita integração desses nove fatores em cada momento da vida.

Cada um de nós vive dentro da estrutura dos dez fatores. Ninguém poderia dizer que não possui"aparência", pois se assim fosse, estaríamos diante de uma pessoa invisível. Similarmente, ninguém poderia afirmar não ter personalidade nem energia, ou que não desempenhe alguma atividade. Tampouco poderia haver uma situação em que a aparência correspondesse a uma pessoa, a natureza a outra, e a entidade a uma outra pessoa. Há uma consistência entre todos os fatores, e juntos eles formam a totalidade insubstituível de seu ser. (Revista Terceira Civilização n.328/ dez.95 – A Verdadeira entidade de todos os fenômenos é a sabedoria para compreender a verdade da vida).

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